Goste-se ou não, talvez seja melhor se acostumar com um crescimento da economia brasileira em torno de 3,7% ao ano. Essa foi a taxa de expansão registrada no ano passado, segundo dado recém-divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Coincidentemente, é o mesmo ritmo de crescimento projetado para os próximos 13 anos por técnicos da consultoria Ernst & Young e da Fundação Getulio Vargas. Um estudo exclusivo, feito em parceria pelas duas instituições, traçou cenários para 2020 e obteve estimativas de crescimento semelhantes às de outro trabalho, a conhecida pesquisa do banco Goldman Sachs sobre o potencial futuro de Brasil, Rússia, Índia e China -- o bloco apelidado de Bric. Uma diferença é que a previsão do Goldman Sachs fez as contas sobre o que pode ocorrer até 2050, quando o Brasil poderia alcançar o posto de quinta maior economia mundial. O estudo da FGV e da E&Y serve como uma espécie de avaliação do que pode ser o estado do país no meio do caminho -- no horizonte analisado, o Brasil estaria ainda na nona colocação no ranking global.
Projeções são projeções -- e como tal podem dar certo ou não. Mas o prazo de projeção menos ambicioso tem uma vantagem de caráter prático -- fica mais perto do futuro que as empresas conseguem vislumbrar em seu planejamento estratégico. "É um cenário de forte crescimento na escala de negócios no Brasil, de aumento da internacionalização, e que irá requerer das empresas mais sofisticação de controles e mais tecnologia", afirma Luiz Guilherme Frazão, presidente da Ernst & Young no Brasil. À primeira vista, o cenário de expansão anual de menos de 4% pode não impressionar. No entanto, essa taxa seria capaz de fazer o país passar a andar à frente da média mundial -- espera-se que a economia global cresça 3,3% ao ano até 2020. Caso de fato aconteça como projetam os consultores, a expansão brasileira não será suficiente para colocar o país no páreo dos emergentes mais dinâmicos, como China e Índia, mas é bem superior ao desempenho registrado nas últimas duas décadas e significará chegar mais perto da cadência do Chile, dono dos melhores fundamentos econômicos na América Latina. "Devemos olhar esse cenário como um número a ser superado, com o qual não podemos nos contentar", diz o economista Armando Castelar Pinheiro, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Mas a projeção é mais plausível que os 5% considerados pelo governo no Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC."
O Brasil que se desenha na foto, de todo modo, tem números que impressionam. Se confirmada a tendência captada na pesquisa, em 13 anos a economia vai acumular um crescimento de 60% -- o PIB atingiria 1,6 trilhão de dólares em 2020, comparável ao de Itália e Reino Unido. Apenas esse acréscimo equivale a adicionar tudo o que produzem atualmente os demais países da América do Sul e Central juntos. Esse resultado traduz-se na forma de uma forte ampliação de escala -- uma vantagem exclusiva dos países de grande população, como também são China, Índia e Estados Unidos --, talvez o maior impulso positivo para a economia nos próximos anos. A incorporação de uma enorme massa de consumidores de baixa renda, hoje alijados do mercado, teria o efeito de quase dobrar o potencial de consumo do país. O volume de negócios das empresas, bem como as exportações do país, também deve ser multiplicado por 2. O cenário mais positivo servirá como uma fonte de atração de investimentos externos -- a entrada líquida de recursos pode alcançar 35 bilhões de dólares, bem acima da média de 27 bilhões observada durante o período do auge das privatizações, no final da década de 90. Um dos fatores que justificam o aumento do fluxo de investimento estrangeiro é a boa rentabilidade oferecida pelos negócios no país. Segundo o estudo da Ernst & Young e da FGV, entre as dez maiores economias do mundo, o Brasil estará atrás apenas de Índia, China e Estados Unidos em matéria de retorno líquido do capital.
Retrato projetado
Alguns indicadores de como está a economia brasileira atualmente e de como estará em 2020
2006 2020
Produto interno bruto 1 trilhão de dólares 1,6 trilhão de dólares
Volume de negócios das empresas 2,3 trilhões(1) de dólares 3,9 trilhões de dólares
Mercado consumidor 400 bilhões(1) de dólares 700 bilhões de dólares
Exportações 137 bilhões de dólares 256 bilhões de dólares
Investimento direto estrangeiro 19 bilhões de dólares 35 bilhões de dólares
PIB por trabalhador 14 400(1) 21 300
(1) Em 2005
Fontes: E&Y/FGVe Sobeet
OUTRO FENOMENO CAPTADO é uma mudança de fundo quanto aos motores que impulsionam o país. Daqui em diante, a economia brasileira será impelida principalmente pelo aumento da demanda de serviços. A taxa de crescimento desse setor saltará muito à frente da média da indústria e da agropecuária, como conseqüência direta da evolução da renda e da educação. Um dos setores com maior perspectiva de crescimento acelerado, com poder de influência sobre boa parte da economia, é o de habitação. A queda consistente dos juros e a consolidação das regras para proteger os investidores devem colaborar nesse sentido, somando-se à oferta de crédito crescente. A previsão é que os gastos das famílias no país com habitação, compreendendo construção ou compra de imóveis, aluguéis e serviços de condomínio, evoluam à taxa anual de quase 5% até 2020. Outras frentes de grandes oportunidades são os produtos eletroeletrônicos, serviços de comunicação, transporte, saúde e educação. "Vemos o Brasil com otimismo", diz Adilson Primo, presidente da subsidiária da alemã Siemens, uma das maiores fabricantes mundiais de equipamentos elétricos e eletrônicos. "O país hoje anda mais devagar que os demais do Bric, mas será um dos mercados mais importantes do mundo." A Siemens quer estar presente em todas as áreas do setor de energia, no setor de transportes e no ramo de equipamentos médicos.
Para que o cenário se materialize, será vital evoluir na melhoria da formação dos trabalhadores e elevar a produtividade. As empresas brasileiras com pretensão a disputar o mercado global precisarão investir em programas próprios de aperfeiçoamento profissional para suprir as deficiências do sistema de ensino do país. O governo também terá de fazer sua parte, elevando a escolaridade média da população brasileira acima de 15 anos de idade de 7,4 anos para 9,3 anos de estudo -- avanço suficiente para que o salário real suba 2,5% ao ano. A renda média por trabalhador poderá atingir 21 300 dólares anuais em 2020, quase 50% superior ao nível atual. Um contingente de mais de 10 milhões de trabalhadores deve entrar no mercado.
MAS A NECESSIDADE DE QUALIFICAR mão-de-obra também representa uma oportunidade crescente de negócios. O Brasil possui apenas um em cada cinco jovens de 18 a 24 anos matriculado no ensino superior. Para chegar a 2020 no mesmo nível do Chile, que tem o dobro da proporção, o número de matrículas em faculdades precisará aumentar 6% ao ano. "Na nossa visão, para atingir as metas, o país terá de contar mais com o sistema privado de ensino", afirma Carlos Alberto Filgueiras, presidente da rede Faculdades Nordeste (Fanor), que recentemente teve 30% de seu capital adquirido por fundos administrados pelo banco UBS Pactual. A Fanor, hoje com 4 000 alunos, planeja contar com 10 000 estudantes em três anos e, até 2020, tornar-se a maior rede de ensino superior do Nordeste, região com carências acima da média nacional.
No pelotão de frente
O cenário futuro da economia brasileira é positivo considerando-se tanto indicadores de crescimento quanto de mercados de consumo
O Brasil deve crescer um pouco acima da média mundial até 2020 e a área de serviços vai liderar o crescimento
PIB (taxa anual)
Brasil 3,7%
Mundo 3,3%
Agropecuária (taxa anual)
Brasil 2,2%
Mundo 2%
Indústria (taxa anual)
Brasil 3,6%
Mundo 3,1%
Serviços (taxa anual)
Brasil 6,2%
Mundo 4%
Fonte: E&Y / FGV Projetos
As dez maiores economias do mundo em 2020
(PIB em trilhões de dólares)
1 Estados Unidos 15,8
2 Japão 7,7
3 China 6,7
4 Alemanha 2,9
5 França 2,8
6 Reino Unido 2
7 Índia 1,8
8 Itália 1,8
9 Brasil 1,6
10 Coréia do Sul 1,5
Fonte: E&Y / FGV Projetos
Classificação por retorno do capital em 2020
(taxa de rentabilidade líquida por ano)
1 Índia 30,3%
2 China 27,5%
3 Estados Unidos 23%
4 Brasil 20,8%
5 Reino Unido 19,5%
6 Coréia do Sul 17,1%
7 França 16,8%
8 Itália 14,9%
9 Alemanha 14,8%
10 Japão 13,8%
Fonte: E&Y / FGV Projetos
Setores que terão maior crescimento da demanda no Brasil até 2020
(média anual de aumento dos gastos das famílias)
Produtos eletroeletrônicos 5,8%
Serviços de comunicação 4,8%
Habitação 4,8%
Saúde e educação 3,8%
Transportes 3%
Combustíveis 2,8%
Alimento in natura 2,6%
Serviços pessoais 2,4%
Fonte: E&Y / FGV Projetos
Para traçar o cenário, os autores partiram de premissas conservadoras -- e realistas -- sobre as mudanças que o país fará na economia. "Imaginamos que a estabilidade econômica e institucional será mantida, mas não vemos condições para um avanço rápido nas reformas", diz Pedro Cavalcanti Ferreira, um dos economistas da FGV que participaram do estudo. Uma reforma tributária profunda, por exemplo, fundamental para permitir algum alívio na carga de impostos do país, não aparece no radar dos pesquisadores -- e, ao que tudo indica, nem do governo. "Já será positivo se o fardo de impostos permanecer nos patamares atuais, em que a arrecadação pelas três esferas de governo equivale a cerca de 37% do PIB", afirma Ferreira. O que pode melhorar é a distribuição do peso na sociedade, com aumento da pressão para quem não paga hoje passar a pagar. Os autores também não prognosticam aumento da taxa total de investimento na economia. A média projetada para o futuro, de 19% ao ano, é menor que a de 21% contabilizada de 1990 a 2005. Será superior à média de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, mas permanecerá bem inferior às taxas da Coréia do Sul e da China, por exemplo. Para aumentar a proporção de investimentos, o Brasil precisaria remover obstáculos da infra-estrutura e da falta de regras claras, que desencorajam a participação do setor privado. Por parte do setor público, porém, não há sinais de que adquira condições de fazer o que lhe cabe nos próximos anos. O estudo da E&Y e da FGV considerou ainda uma hipótese, mais otimista, de o Brasil fazer sua lição de casa, atacando com mais vigor os gargalos da infra-estrutura, o déficit da Previdência, aliviando os encargos trabalhistas, reduzindo a carga tributrária, ampliando o crédito e investindo mais em educação e tecnologia. Nesse cenário mais positivo, o crescimento econômico poderia subir para quase 5% ao ano.
Para traçar o Brasil de 2020, os realizadores do estudo analisaram os dados da economia desde 1950 e identificaram dois períodos distintos. Nos primeiros 30 anos, até 1980, o país cresceu aceleradamente, à média de 7,6% ao ano. Mas de 1980 a 2005 o crescimento foi freado e a taxa de evolução anual do PIB caiu para a média de 2,2%. Foi a fase do inchaço do Estado, aumento da carga tributária e queda dos investimentos na infra-estrutura. Os autores fizeram uma simulação aplicando a taxa de 3,7% para esse período de 25 anos de transição. O resultado mostrou que o Brasil deixou de acrescentar 440 bilhões de dólares a seu PIB. Essa diferença corresponde a uma espécie de passado que não aconteceu em termos de crescimento. Feitas as contas do que esperar até 2020, resta torcer para que o país ao menos não perca o potencial de desenvolvimento -- mesmo o relativamente mais modesto -- do futuro.
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Quem sou eu
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